“O Divã”, filme de José Alvarenga Jr. lançado em 2009, contava a história de uma mulher de meia idade, aparentemente feliz, que acudia ao psicanalista tentando descobrir a causa de certo desconforto emocional. No processo, a personagem iria descobrir o seu ‘outro lado’, passando a questionar valores aparentemente sagrados como o matrimonio, a fidelidade, a devoção ao lar, etc.
A beleza de Vanessa Giácomo e o excesso gengival de Rafael Infante
Eduarda (Vanessa Giácomo) é uma médica ortopedista casada com Marcos (Rafael Infante), produtor de eventos. Embora ambos sejam profissionais bem sucedidos, a relação entre eles não anda muito bem, revelando o desgaste de um casamento prematuro. De comum acordo, o casal decide ‘dar um tempo’ no relacionamento, e assim cada um irá se aventurar na procura de novos parceiros amorosos, enquanto lidam com os problemas derivados da separação, especialmente no que diz respeito ao cuidado do filho de 10 anos.
Até esse ponto, o longa poderia ser qualificado como uma comédia romântica medíocre: as cenas carecem do timing adequado; o desempenho dos atores é bastante desigual (destaque para Giácomo, pela beleza e pelo talento) e as situações são previsíveis e ligeiramente engraçadas. Surpreende, pelo descaro, o ‘merchand’ que é realizado de certos produtos: a câmera passa a focar neles interrompendo a narrativa grosseiramente.
Todavia, o pior está por chegar. O terceiro ato é um desastre na narração, na direção (uma constrangedora cena de Fernanda Paes Leme que destoa de seu aceitável desempenho até esse ponto) e, no pior de tudo, na ‘moral’ da história. Pois, se até o final do segundo ato a ideia que se passava era a importância de Eduarda procurar a felicidade sem se importar com os convencionalismos impostos pela sociedade e pelo machismo, na terceira parte o roteiro força a barra para que uma série de eventos a obriguem a decidir o seu futuro da forma menos voluntária que poderia acontecer.
Um filme, assim como qualquer narração, é um caminho a ser atravessado por um personagem. Quem determina o percurso é o personagem, mas o próprio caminho também faz mudar, em algum aspecto, o indivíduo. Em “Divã a 2” a Eduarda percorrerá um trajeto circular, e a maior angústia que terá o espectador será perceber que nem a personagem, nem os realizadores, se deram conta disso. A imagem congelada da última cena, supostamente feliz, é tão perturbadora quanto o sorriso de Rafael Infante. Nos créditos finais aparecerá o único lance engraçado de “Divã a 2”, mas virá tarde demais.
Tomei o (leve) trabalho de contar, no inicio do filme, as logomarcas das entidades privadas e públicas que cooperaram na realização: foram 15. Para ser um longa que se limita a mostrar pessoas falando frente à câmera, cabe perguntar qual o destino, e o sentido, de tanto apoio, patrocínio e colaboração.
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