sexta-feira, 31 de maio de 2013

Aeromóvel - questionar para não torrar

Caso a sociedade campista não queira ver desperdiçados 400 milhões, é importante começar a prestar atenção ao projeto do Aeromóvel que a Prefeitura está querendo implementar em Campos, e que conta, como sabemos, com a aprovação automática da maioria dos vereadores.

Os jornalistas e blogueiros Ricardo André Vasconcelos e Alexandre Bastos  começaram a participar do Jogo das Diferenças do Aeromóvel. Clique nos nomes para acessar às matérias de ambos sobre o assunto.

Aliás, Ricardo André, num dos seus posts (link acima), lança algumas questões preliminares sobre o sistema muito pertinentes, e que seria muito saudável para as contas municipais se fossem respondidas antes de começar a gastar o dinheiro  dos royalties neste projeto. Destaco duas:

 Os valores previstos serão suficientes para cobrir os gastos, inclusive as desapropriações das nove áreas que constam no decreto publicado hoje  ?

A ciclovia é muito estreita para a largura dos trens que têm sido mostrados. Então só poderão transitar em um sentido de cada vez? Ou poderão passar um pelo outro de forma a que o espaço de tempo entre um trem e outro não seja tão grande? Afinal, são 11 km e 10 estações. Se o aeromóvel transitar num sentido de cada vez, até sair de Guarus até a Penha e voltar, qual o tempo que o passageiro vai precisar esperar entre um trem e outro? Pelo que li eles andam a 70 km por hora.



Em relação a essas perguntas, vou aportar alguma informação que fui obtendo pela web e que servirão para alertar sobre a temeridade e despreparo da empreitada.

Sabemos que o custo do Aeromóvel é de aproximadamente 30 milhões por km. Se a extensão do percurso, como foi anunciado, será de 11 km (começou em 30 km; passou para 13 km e agora é 11 km), então o valor do sistema propriamente dito será de R$ 330 milhões. Como foi informado que o valor total ascende a 396 milhões, restariam 66 mi para as desapropriações. Portanto é importantíssimo confirmar qual a extensão  total do Aeromóvel, incluindo os trechos de manobras e destinados a manutenção, para saber por quanto o orçamento será estourado.

Mas agora vem a segunda pergunta de André, acerca do sentido único do Aeromóvel. Esta indagação precisa de uma resposta que leva um pouco mais de tempo responder, e que não sabemos se o poder público já a levantou. Tenham paciência para o que vem.

O sistema de Aeromóvel foi desenvolvido por um gaúcho, o senhor Oskar Coester, que há mais de 30 anos vem lutando para implantar o sistema como uma alternativa viável e ecológica às opções de transporte existentes nas cidades. Informações sobre a empresa do senhor Coester e sobre o seu veículo, aqui.

clique na imagem para saber como funciona o Aeromóvel


contece que, até agora, o sistema só está funcionando apenas em um lugar no planeta: Jacarta, Indonésia. Lá, o Aeromóvel foi construido em 1989 dentro de um parque,  Taman Mini Indonesia Indah, e transporta pessoas num trajeto circular de 3,2 km.

Em Porto Alegre, encontra-se na fase de testes outra linha de Aeromóvel, que unirá o aeroporto da cidade com a estação do Trensurb. Ela também tem extensão de menos de 1km, e está previsto para começar a transportar pessoas no segundo semestre deste ano.

Nos dois casos mencionados, os vagões se movimentam  apenas num único trilho. 

Se a ideia é que Campos tenha também um transporte de apenas uma via (e, pelo custo informado e pelos antecedentes, assim parece) num percurso tão longo, é absolutamente necessário que especialistas em engenharia de transporte avaliem sua praticidade e a forma em que as formações irão se movimentar pela linha, além de se questionar se é viável que os vagões andem em sentido contrário sem necessidade de manobras demoradas.

O engenheiro Cloraldino Severo, também gaúcho, foi ministro de transportes em 1982. Na época, foi ele quem deu parecer negativo ao projeto de Coester, negando-lhe apoio do governo, por entender que o Aeromóvel não funciona como transporte massivo de pessoas. 

Em entrevista ao jornal Zero Hora, Severo disse:

— O aeromóvel não é transporte de massa. Essa ideia de uma linha até a Zona Sul, por exemplo, é uma loucura. Para se deslocar terá de aumentar o número de motores. Aumentando a capacidade, a viga ficará gigantesca. Será preciso ter escadas rolantes. O custo ficará extremamente alto.

A entrevista completa com o Cloraldino Severo, mais outras informações sobre o Aeromóvel de Porto Alegre, aqui.

Já saiu o decreto que anuncia a desapropriação de imóveis para a implantação do projeto, veja no blog de Ricardo André, aqui.

Há pressa na Prefeitura, e ela terá um custo.


Correção de domingo 2/6: o trajeto do aeromovel de jacarta é de 3,2km e não de 1km como informei antes.



Um comentário:

douglas da mata disse...

Estranho não ler nenhum texto seu sobre o caso Globogate...

O que houve, o gato comeu sua língua tão afiada a desfiar os males dos governos que você chama de "populistas"?

E agora, sonegando impostos, lavando dinheiro em paraísos fiscais, processos roubados, seria o caso de cassação da concessão?

Qual é sua opinião sobre o tema? Estou curioso, porque sabes que prezo muito aquilo que escreves, embora quase sempre discorde!